Nova alternativa para o tratamento do melasma, que utiliza ácido kójico e alfa-arbutin, proporciona menor recorrência e maior tolerabilidade.
- Pharmactiva

- 6 de out.
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Este estudo traz dados clínicos que podem mudar a forma como o dermatologista aborda o melasma na prática diária. Comprovando que a combinação é eficaz, segura e com menor recorrência, ele se posiciona como uma alternativa confiável à tripla-combinação, permitindo maior flexibilidade nas estratégias terapêuticas.
Isso abre caminho para tratamentos mais personalizados, menos agressivos e sustentáveis, impactando diretamente na qualidade de vida dos pacientes e na adesão ao tratamento.
O problema
O melasma é um distúrbio crônico de hiperpigmentação, caracterizado por manchas escuras, predominantemente na face, afetando especialmente indivíduos com fototipos III e IV de Fitzpatrick. Sua etiologia envolve a ativação de melanócitos e uma complexa interação entre fatores hormonais, genéticos e ambientais, sendo a exposição aos raios UV o principal desencadeante.
O tratamento padrão-ouro é o creme de combinação tripla (TCC), que contém hidroquinona 4%, tretinoína 0,05% e fluocinolona acetonida 0,01%. A hidroquinona inibe a tirosinase, impedindo a formação de melanina; a tretinoína acelera a renovação celular e reduz a transferência de melanosomas; enquanto a fluocinolona tem ação anti-inflamatória, prevenindo hiperpigmentação pós-inflamatória. Apesar da eficácia, o uso prolongado do TCC está associado a efeitos adversos, como eritema, ardência, ressecamento, hipopigmentação e ocronose exógena, além de alta taxa de recorrência após a descontinuação.
Alternativas com melhor perfil de segurança, como o alfa-arbutin e o ácido kójico, têm sido investigadas. O alfa-arbutin, derivado da hidroquinona, é um inibidor da tirosinase com menor potencial irritativo e efeito clareador progressivo. O ácido kójico, por sua vez, age como quelante de cobre (cofator da tirosinase), reduzindo a formação de melanina e oferecendo um efeito antioxidante.

Uma abordagem eficaz para avaliar novas formulações no tratamento do melasma é o modelo split-face, no qual diferentes terapias são aplicadas em lados opostos do rosto do paciente. Esse desenho de estudo permite comparações mais precisas dos efeitos clínicos de cada intervenção, minimizando variações individuais na resposta ao tratamento. Métodos objetivos, como a análise do Índice de Melanina (MI) e o Índice Modificado de Gravidade do Melasma (mMASI), aliados à avaliação de satisfação do paciente e incidência de efeitos adversos, fornecem uma visão ampla sobre o impacto das terapias testadas.
Os achados deste estudo trazem informações relevantes para dermatologistas sobre o papel do alfa-arbutin e do ácido kójico como potenciais alternativas no manejo do melasma, considerando não apenas a eficácia despigmentante, mas também o impacto na segurança e na recorrência da hiperpigmentação após a suspensão do tratamento.

Tipo de estudo:
Ensaio clínico randomizado, piloto, avaliador-cego, com modelo "split-face".
Questão de pesquisa (PICO):

População: 30 pacientes com melasma facial bilateral e simétrico, idade entre 25 e 60 anos, sem histórico de alergia aos componentes dos cremes.

Intervenção: Aplicação do creme AAK (alfa-arbutin + ácido kójico) duas vezes ao dia em um lado do rosto. | Comparador: Aplicação do TCC uma vez ao dia no lado oposto da face.

Resultados (Outcomes): Avaliação da eficácia por: Índice de Melanina (MI), Índice Modificado de Gravidade do Melasma (mMASI), Escala de Avaliação Global do Médico (PGA), Satisfação do paciente e efeitos adversos. Duração do tratamento: 12 semanas, com acompanhamento de 4 semanas após a interrupção.
Referência: J Cosmet Dermatol. 2025 Jan;24(1):e16562. doi: 10.1111/jocd.16562.

Segurança e Tolerabilidade :
• Menos efeitos adversos no AAK: Eritema foi relatado em 33% dos pacientes do grupo TCC versus apenas 11% no AAK na semana 4 (p = 0,024), com tendência de maior irritação persistente no TCC.
• Menor incidência de ardência e ressecamento: Ardência foi relatada por 22% no grupo TCC versus 11% no AAK (p = 0,059). Nenhum paciente no grupo AAK apresentou efeitos adversos graves ou hipopigmentação.
O AAK demonstrou eficácia comparável ao TCC, com menor risco de efeitos adversos e recorrência do melasma, tornando-se uma alternativa viável para pacientes que buscam segurança e resultados sustentáveis. Além disso, o AAK apresentou maior aceitação em peles sensíveis e foi mais bem tolerado a longo prazo, sugerindo um perfil mais seguro para tratamentos contínuos.
Fotografia clínica. (A) Lado que recebeu alfa-arbutin 5%
Ácido kójico 2% e (B) Lado que recebeu a tripla combinação. 5


O desaparecimento precoce dos eventos adversos no AAK sugere uma melhor adaptação da pele ao tratamento, tornando-o uma opção mais segura para uso contínuo ou manutenção do clareamento. O AAK reduziu os efeitos adversos mais rapidamente e com menor intensidade, sendo uma alternativa viável para pacientes que necessitam de um tratamento eficaz, porém com melhor perfil de tolerabilidade.
Discussão e Implicações Clínicas -
Os resultados deste estudo evidenciam o potencial clínico do creme contendo alfa-arbutin e ácido kójico (AAK) como alternativa ao creme de combinação tripla (TCC) no tratamento do melasma. A eficácia observada nos desfechos objetivos, aliada à menor taxa de recorrência e melhor tolerabilidade cutânea, reforça a viabilidade desse protocolo terapêutico.
O mecanismo de ação combinado do AAK sustenta seu benefício clínico:
O alfa-arbutin inibe a tirosinase e bloqueia a maturação dos melanosomas, reduzindo a síntese de melanina de forma progressiva e segura.
O ácido kójico potencializa esse efeito ao quelar íons de cobre, essenciais para a atividade da tirosinase, e oferecer ação antioxidante que reduz o estresse oxidativo sobre os melanócitos.
A ação sinérgica desses ativos promove o clareamento das lesões, sem os efeitos adversos frequentemente associados ao TCC, como eritema e irritação persistente.
No quesito segurança, os dados indicam menor incidência e intensidade de efeitos adversos no grupo AAK, especialmente em comparação ao TCC, cuja aplicação prolongada pode desencadear eventos como hipopigmentação e sensibilização cutânea. A menor taxa de recorrência do melasma após a interrupção do tratamento com AAK sugere uma ação mais sustentada na modulação da pigmentação, um diferencial relevante para a prática clínica.
Do ponto de vista terapêutico, a possibilidade de personalização do tratamento se destaca. Pacientes que apresentam pele sensível, histórico de intolerância ao TCC ou que necessitam de um regime seguro de manutenção podem se beneficiar significativamente do AAK. O alto nível de satisfação dos pacientes reforça sua aplicabilidade, especialmente em indivíduos que buscam tratamentos eficazes com menor risco de efeitos colaterais.
Uma limitação a ser considerada é o tamanho reduzido da amostra, o que impede extrapolações amplas dos achados. Novos estudos com maior número de participantes e variáveis adicionais, como tempo de evolução do melasma e influência de fatores hormonais, podem fortalecer as evidências sobre essa abordagem. Além disso, a investigação de formulações combinadas com outros agentes despigmentantes pode otimizar ainda mais os resultados.
Este estudo contribui para a dermatologia clínica ao demonstrar que o AAK representa uma alternativa eficaz e segura ao TCC, abrindo espaço para novas estratégias terapêuticas no manejo do melasma. A incorporação de protocolos combinados e ajustáveis às necessidades individuais do paciente pode redefinir condutas tradicionais e ampliar as opções disponíveis para um tratamento mais seguro e sustentado.

Aviso: Não se auto medique! É fundamental procurar um especialista para receber a orientação adequada e encontrar o tratamento ideal para a sua situação. Cuide-se!
*Consulte um especialista para orientações sobre dosagem e uso seguro destes produtos manipulados!
Creme Despigmentante AAK
Alfa-arbutin 5%
Ácido Kójico 2%
Creme base qsp 60g
Manter pH entre 4,5 e 5,5.
Aplicar uma camada fina do creme duas vezes ao dia (manhã e noite) sobre as áreas afetadas pelo melasma, com a pele limpa e seca.
Rotina Diurna:
• Após a aplicação matinal, aguardar a absorção completa antes de utilizar outros dermocosméticos.
• Uso obrigatório de protetor solar FPS 50+, reaplicado a cada 2 horas, especialmente em exposição solar direta.
Rotina Noturna:
• Aplicar o creme antes de dormir, com a pele previamente higienizada.
• Evitar uso simultâneo de ácidos esfoliantes para minimizar irritações.
Para garantir estabilidade, segurança e eficácia da formulação contendo alfa-arbutin 5% e ácido kójico 2%, o pH final ideal deve ser mantido entre 4,5 e 5,5.
Justificativa do pH:
1. Estabilidade do Alfa-Arbutin - O alfa-arbutin é estável em pH ácido a levemente ácido (4,5 a 6,5), mas sua eficácia na inibição da tirosinase é otimizada em pH ≤ 5,5.
2. Estabilidade do Ácido Kójico - O ácido kójico é mais eficaz em pH entre 4 e 5,5, mas em pH muito baixo (<4), pode causar irritação cutânea. Acima de pH 6, ele se torna instável, levando à degradação e possível escurecimento da fórmula.
3. Evitar Irritação Cutânea - Um pH entre 4,5 e 5,5 mantém a compatibilidade com o manto ácido da pele, reduzindo riscos de sensibilização e melhorando a absorção dos ativos.
Literatura consultada
Tantanasrigul P, Sripha A, Chongmelaxme B. The Efficacy of Topical Cosmetic Containing Alpha-Arbutin 5% and Kojic Acid 2% Compared With Triple Combination Cream for the Treatment of Melasma: A Split-Face, Evaluator-Blinded Randomized Pilot Study. J Cosmet Dermatol. 2025 Jan;24(1):e16562. doi: 10.1111/jocd.16562. Epub 2024 Nov 18. PMID: 39555866; PMCID: PMC11740261.
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