A combinação de glutationa com microagulhamento mostra-se eficaz no tratamento de melasma, com resultados superiores e mais rápidos que o microagulhamento sozinho. Esta estratégia reduz a hiperpigmentação da pele, além de aumentar a satisfação dos pacientes devido à rápida recuperação e ao mínimo desconforto, sendo um avanço promissor na dermatologia estética.
O Problema
Melasma, uma manifestação cutânea de hiperpigmentação, afeta consideravelmente a qualidade de vida dos indivíduos predispostos, despertando a busca por novas estratégias terapêuticas. Com prevalência variável, impacta até 40% das mulheres em idade reprodutiva, dependendo da etnia, e é mais comum em asiáticos, hispânicos e indivíduos com tipos de pele III a V segundo Fitzpatrick1. A complexidade patogênica do melasma envolve desde a hiperatividade dos melanócitos até o aumento da vascularização e elastose solar, traçando um paralelo com os distúrbios de fotoenvelhecimento2.
Embora frequentemente associado ao ciclo reprodutivo feminino e à predisposição genética, estudos recentes ampliaram o entendimento sobre o melasma, sugerindo que seja, de fato, um transtorno de fotoenvelhecimento da pele. Isso é evidenciado pelo aumento de mastócitos dérmicos, elastose solar e alterações na membrana basal, características comuns ao envelhecimento cutâneo induzido por radiação2. A compreensão dessa nova perspectiva é crucial, uma vez que conduz a abordagens terapêuticas diferenciadas.
As intervenções atuais, que incluem desde fármacos tópicos às terapias baseadas em luz e laser, são repletas de resultados variados e recidivas frequentes, tornando o tratamento do melasma desafiador. O microagulhamento emergiu como técnica promissora, potencializando a absorção de agentes tópicos e estimulando a renovação dérmica. Em paralelo, a glutationa, um tripeptídeo antioxidante natural, tem se mostrado eficaz na modulação da melanogênese, atuando tanto na inibição da tirosinase quanto na captura de espécies reativas de oxigênio induzidas pela UV1.
Atualmente há carência de estudos que avaliem a eficácia combinada de microagulhamento e glutationa.
Este paper apresenta uma investigação comparativa entre a monoterapia de microagulhamento e sua associação com glutationa no tratamento do melasma1.
Tipo de estudo:
Ensaio clínico controlado não-randomizado com um design split-face*.
Questão de pesquisa (PICO)
População: 29 mulheres com média de idade de 38,21 ± 6,36 anos, todas apresentando melasma epidermal bilateral simétrico confirmado por exame com luz de Wood.
Intervenção: A intervenção principal do estudo foi a aplicação de microagulhamento seguida pela aplicação tópica de solução de glutationa no lado direito do rosto. O microagulhamento foi realizado com um dermapen com 36 agulhas, ajustando o comprimento da agulha de acordo com o local tratado (0,5–2 mm). | Comparador: O grupo de comparação foi o lado esquerdo do rosto de cada paciente, que foi submetido apenas ao microagulhamento, sem a aplicação subsequente de glutationa.
Outcomes: A eficácia do tratamento foi mensurada utilizando o escore Hemi-mMASI, que avalia a intensidade da pigmentação (D) e a extensão da área afetada (A). Para documentar visualmente a evolução do tratamento, fotografias digitais foram capturadas nas consultas. A avaliação da melhora foi realizada por dois dermatologistas, além da satisfação dos pacientes, quantificado através da escala breve de satisfação do paciente (SAPS).
* split-face: cada paciente atua como seu próprio controle, com um lado do rosto recebendo a intervenção e o outro lado recebendo o controle para comparação.
Referência: J Cosmet Dermatol. 2023 Dec;22(12):3379-3386. doi: 10.1111/jocd.15834.
Desfechos
No grupo submetido ao microagulhamento com glutationa (lado direito), observou-se redução significativa na pontuação Hemi- mMASI logo após a primeira sessão, indicando uma resposta inicial mais rápida em comparação com o lado tratado somente com microagulhamento (lado esquerdo). Esta melhora continuou de forma significativa ao longo das sessões.
Dados quantitativos relevantes:
• A média de melhoria no grupo de intervenção (microagulhamento + glutationa) foi de 55,17 ± 15,50% (p= 0,02), comparado ao lado controle (microagulhamento), que teve uma média de melhoria de 46,92 ± 16,30%.
Percentual de melhora clínica de acordo com o escore MASI entre os lados esquerdo e direito do rosto do grupo estudado.
Escore MASI | Lado Esquerdo (Microagulhamento) | Lado Direito (Microagulhamento com Glutationa) | Valor-p |
Percentual de Melhora (%) | |||
Média ± DP | 46,92 ± 16,30 | 55,17 ± 15,50 | 0,02 |
Mediana (Intervalo) | 47,37 (20,31:83,33) | 56,13 (12,90:86,36) |
Nota: DP significa desvio padrão. O valor p=0,02 indica uma diferença estatisticamente significativa entre os lados direito e esquerdo.
• Adicionalmente, ao final do tratamento, o escore Hemi-mMASI médio no lado da intervenção diminuiu de 4,21 ± 2,08 para 1,96 ± 1,30, enquanto no lado controle a redução foi de 4,06 ± 1,91 para 2,31 ± 1,45.
Comparativamente, o grupo de intervenção apresentou melhora mais evidente que o grupo controle, com uma diferença estatisticamente significativa entre os dois lados. Notavelmente, o lado da intervenção (direito) mostrou maior porcentagem de resposta "boa" de 68,97% em comparação ao lado controle (esquerdo).
Resposta ao tratamento nos lados esquerdo (controle) e direito (intervenção) do rosto do grupo estudado.
Resposta ao Tratamento | Lado Esquerdo (Microagulhamento) N = 29 | Lado Direito (Microagulhamento com Glutationa) N = 29 |
Resposta Leve (<25% de melhoria) | 4 (13,79%) | 1 (3,45%) |
Resposta Moderada (25–49% de melhoria) | 12 (41,38%) | 6 (20,39%) |
Boa Resposta (50–74% de melhoria) | 12 (41,38%) | 20 (68,97%) |
Resposta Muito Boa (≥ 75% de melhoria) | 1 (3,45%) | 2 (6,90%) |
Os resultados sugerem que o microagulhamento combinado com glutationa é mais eficaz que o microagulhamento sozinho no tratamento do melasma facial.
A resposta mais rápida e a maior porcentagem de melhora no grupo de intervenção indicam que adicionar glutationa ao tratamento de microagulhamento pode ser estratégia mais eficaz para tratamento do melasma1.
Imagens de pacientes mostrando melhora mais evidente do lado esquerdo (microagulhamento) quando comparado ao lado direito (microagulhamento com glutationa).
Figuras 1-3: (A,B) Lado direito antes e após microagulhamento com glutationa. (C,D) Lado esquerdo antes e após microagulhamento sozinho, respectivamente.
Este estudo reforça a evidência de que o tratamento combinado de microagulhamento com glutationa é superior ao uso de microagulhamento sozinho para a redução do melasma facial;
Através de uma abordagem metodológica rigorosa e comparação direta entre as modalidades de tratamento no mesmo paciente, a pesquisa contribui com insights valiosos sobre a melhoria dos regimes terapêuticos para essa condição desafiadora;
Dada a natureza recorrente e muitas vezes resistente do melasma, essa descoberta oferece uma perspectiva significativa para os esforços em curso de tratamento e cuidado ao paciente1.
Glutationa em solução
Glutationa
Solução facial qsp
Aplicar glutationa na área com melasma logo após o microagulhamento
*Consulte um especialista para orientações sobre dosagem e uso seguro deste produto!
Protocolo de microagulhamento:
• Realizar o microagulhamento usando
dermapen com ponta de 36 agulhas;
• O comprimento da agulha deve ser
ajustado conforme o local tratado,
variando de 0,5 a 2 mm;
• A técnica deve ser aplicada até o
surgimento de eritema ou
sangramento em pontilhado na área
afetada;
• Aplicar a solução de glutationa após o
microagulhamento.
Frequência e duração do tratamento:
• Repetir o procedimento a cada 2 semanas;
• Realizar seis sessões do procedimento ao longo de 3 meses;
Cuidados pós-procedimento:
• Evitar lavar o rosto por 24 horas após o procedimento;
• Evitar a exposição ao sol por pelo menos 7 dias após o tratamento;
• Utilizar protetor solar com FPS de no mínimo 50 quando exposto à luz do dia.
Atenção: É fundamental procurar um especialista para receber a orientação adequada e encontrar o tratamento ideal para a sua situação. Cuide-se!
Literatura consultada:
Mohamed M, Beshay YMA, Assaf HM. Microneedling with glutathione versus
microneedling alone in treatment of facial melasma: Split-face comparative study. J Cosmet Dermatol. 2023 Dec;22(12):3379-3386. doi: 10.1111/jocd.15834.
Passeron T, Picardo M. Melasma, a photoaging disorder. Pigment Cell Melanoma Res. 2018 Jul;31(4):461-465. doi: 10.1111/pcmr.12684.
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